A HISTÓRIA POR TRÁS DA ARQUITETURA DE 5 FAMOSAS CAPAS DE DISCOS

A produção do trabalho criativo geralmente requer um tipo muito particular de espaço – um templo, se você quiser, para realizar com mais precisão o que precisa ser feito. Arquitetos e artistas são cientes de como a vida social e profissional afeta sua prática, e os músicos, é claro, não são diferentes. Talvez seja por isso que lugares e espaços são frequentemente apresentados em capas de álbuns.

A arte de uma capa de álbum é parcialmente publicidade, mas também é muitas vezes um símbolo visual de um período da vida de um músico. A capa de um álbum pode representar a visão de quem entra no estúdio todos os dias, o edifício no qual o álbum foi gravado, a cidade em que o músico cresceu ou uma infinidade de outras conexões mais abstratas.

Vamos deixar para que você faça a conexão entre os cinco marcos arquitetônicos apresentados nos discos a seguir e as músicas neles contidas.

Álbum: Encore, DJ Snake (2016)
Edifício: entrada do metrô de Hector Guimard em Paris

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Guimard é conhecido como um dos arquitetos que trouxe a Art Nouveau para a França, um estilo que começou nas artes decorativas no final de 1800 e se estendeu até a arquitetura pouco tempo depois. Central do seu ethos foi a importância da decoração. Nas superfícies sem adornos prévios começou a brotar uma nova ornamentação na forma de pinturas, relevos, vidros pintados e outros.

Os arquitetos destas estruturas embelezadas inspiraram-se nas curvas orgânicas e nas formas vegetais como resposta a simplificada e genérica arquitetura industrial da época anterior. As entradas de Héctor Guimard no metrô de Paris encontram-se entre os exemplos mais emblemáticos de estilo Art Nouveau. Ainda que a forma de entrada mantém um certo nível de abstração, o arquiteto utiliza motivos naturalistas para criar um novo estilo: as pernas da estrutura evocam caules ou videiras, enquanto o toldo de vidro se estende para fora como uma folha. As entradas de Guimard também são conhecidas pelo uso de ferro fundido e vidro.

Álbum: Physical Graffiti, Led Zeppelin (1975)
Edifício: antigos edifícios em St. Mark’s Place em Nova Iorque

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Muitos dos edifícios de Manhattan começaram como moradias de classe média em Soho e Lower East Site. Uma família ocupava um edifício inteiro e, inclusive, tinha um grande pátio escondido da rua. Ao longo do século XIX, a medida em que a cidade se tornou cada vez mais povoada e industrializada, o valor do solo aumentou até o ponto de que estas casas unifamiliares já não eram economicamente viáveis. Os proprietários repartiram as casas em apartamentos, primeiro converteram cada pavimento em uma unidade separada, depois agregaram divisórias dentro de cada nível. Para aumentar ainda mais a rentabilidade do edifício, os pátios existentes frequentemente deram lugar a adições dos edifícios até que desapareceram por completo.

A evolução da ‘townhouse’ aos apartamentos também foi impulsionada pelo movimento de mão-de-obra na área. Na segunda metade do século XIX, a indústria da moda havia se apoderado de Nova Iorque. Isso impulsionou a chegada de empregados de salários baixos, geralmente imigrantes, criando uma demanda de moradias mais econômicas.

Enquanto isso, os antigos inquilinos das ‘townhouses’ mudavam-se para a parte alta da cidade a fim de afastar-se da produção têxtil, já que acreditavam que esta atividade havia tornando o bairro perigoso e barulhento.

Finalmente, estas casas foram subdivididas até o ponto de que várias pessoas compartilhassem uma habitação individual e os edifícios estivessem colados uns aos outros, permitindo a entrada de pouca luz e ventilação.

Álbum: Animals, Pink Floyd (1977)
Edifício: Central Elétrica de Battersea de Sir Giles Gilbert Scott em Londres

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A construção da central elétrica de Battersea começou em 1929 como parte de um movimento para consolidar a rede de energia de Londres de muitas pequenas estações privadas em um só pavimento público. A localização privilegiada da Central no Tâmisa, que era necessária para o resfriamento e o transporte do carvão, colocou o desenho sob escrutínio público. Uma equipe de arquitetos e engenheiros desenhou o projeto original, mas a proposta foi recebida tão mal pelo público que Sir Giles GIlbert Scott foi contratado para redesenhar o exterior. A estrutura de aço e o revestimento de tijolo estão repletos de detalhes art deco.

Agora é um dos maiores projetos de Londres, transformando a central elétrica em uma mistura de apartamentos e escritórios que abrigam o novo campus da Apple em Londres, enquanto a área circundante acolhe novos projetos de Gehry Partners, Foster + Partners e BIG.

Álbum: Yankee Hotel Foxtrot, Wilco (2002)
Edifício: Marina City por Bertrand Goldberg em Chicago

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Um ícone do skyline de Chicago, Marina City de Bertrand Goldberg é, em realidade, um conjunto de duas torres idênticas de concreto armado. Quando o projeto foi finalizado em 1964, a Marina City era o edifício residencial mais alto do mundo. Goldberg foi encarregado de construir algo que ajudasse a combater a imigração nos subúrbios, algo que havia afetado Chicago, assim como muitas outras áreas metropolitanas depois da Segunda Guerra Mundial. Este projeto buscava demostrar que muitas das amenidades suburbanas poderiam existir dentro de uma cidade.

Para isso, Goldberg combinou todos os atributos de um subúrbio nas torres para maior comodidade: incluiu uma academia, boliche, pista de patinação sobre o gelo, restaurantes e, inclusive, dezenove pavimentos de estacionamento na base de cada torre. A suavidade da forma da Marina City remete ao interior, já que conta com suaves curvas em vez de ângulos retos e se divide em unidades iguais para uma vista de 360 graus. Muitas das instalações originais das torres ainda existem (não mais a pista de gelo, infelizmente) e o projeto agora é reconhecido como um ícone urbano.

Álbum: SB#3, Gramatik (2010)
Edifício: Empire State Buliding por Shreve, Lamb e Harmon em Nova Iorque

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O Empire State é um ícone da cidade de Nova Iorque como nenhum outro. Comissionado em 1929, o edifício foi pensado para ser uma representação imponente da audácia dos Estados Unidos.

O efeito ‘escalonado’ da metade superior do arranha-céu é um resultado do Regulamento de Zoneamento 1916, que requer que os edifícios altos recuem proporcionalmente a sua altura em um esforço para permitir que a luz e o ar flua na rua.

Diferentemente da maioria dos projetos deste período, que se iniciaram antes de 1929 e detiveram sua construção depois da quebra da bolsa, o Empire State foi, na realidade, um esforço por criar atividade econômica apesar da Grande Depressão.

Isto foi feito parcialmente com os milhares de empregos que o projeto requereu, mas para ser um êxito total, o edifício deveria ter tanto espaço de escritório quanto fosse possível, por isso, um grande terreno e uma grande altura. Esteticamente, o edifício é um discreto Art Deco, muito menos extravagante que o edifício vizinho, o Chrysler de Nova Iorque.

Sensacional, não?

Fonte: ArchDaily


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